Fábrica Lumière

Este blog nasceu num café-bar chamado "Vertigo", em Lisboa. Pensámos logo que esse nome era um sinal... Só podia. Adoramos "fazer filmes", essa é que é a verdade! Mas inspiramo-nos sempre nos originais. Se a amizade morresse, sobraria inevitavelmente a paixão pela sétima arte que nos une.

março 01, 2005

Óscares (11)

A noite em Lisboa estava fria, a cerimónia também... Os supeitos "live from Lolita's place" tiveram de agarrar-se à má-língua para se aquecerem.

A cerimónia da 77ª edição foi a pior a que já assistimos. Sem 'glamour', sem emoção, sem surpresas. Foi seca, curta e grossa.

As alterações feitas, supostamente para imprimir mais dinâmica, foram no mínimo bizarras:

Gostávamos de saber quem teve a infeliz ideia de criar um pelotão de fusilamento em cima do palco para as categorias ditas técnicas. Ridículo.

Gostávamos de saber quem teve a infeliz ideia de atribuir as estatuetas no meio da plateia às categorias mais pobrezinhas, como a curta metragem de animação, com microfones desgarrados para se despacharem com os discursos.

Gostávamos de saber quem teve a infeliz ideia de colocar alguns apresentadores e familiares de oscarizados honorários nos camarotes do Kodak Theatre, que mais pareciam cenas fantasma, previamente filmadas sem audiência.



O novo formato é absurdo, segmentariza as categorias e desvirtua a linearidade de uma cerimónia, cujo principal atractivo são as palavras e as atitudes que interrompem essa mesma linearidade, provocando o efeito surpresa. Supresas? Não houve.

Gostávamos de saber porque é que o apresentador Chris Rock mais parecia estar num show de 'stand-up comedy' para surdos, como a Sony Hari já fez questão de referir num post aí abaixo, do que a anfitriar uma cerimónia à escala mundial. O rapaz estava dislumbrado, nervoso, soberbamente inchado do alto da sua origem afro-americana, acabando por ser mal educado com brancos e pretos, numa altura em que é preciso sublimar a igualdade ao invés de acentuar diferenças raciais.
Esteve mal, muito mal.



Dois dos piores momentos do estreante foi quando gozou com o protagonismo cinematográfico de Jude Law que nem sequer estava na plateia, e quando atacou a alegada falsidade do sorriso de Nicole Kidman (também ausente), quando Halle Berry ganhou o óscar... Resposta à letra teve-a Chris Rock da parte de Sean Penn, mas isto já é pelouro da querida Roxanne... Ela sentenciará.
Pelo que assistimos, longe irão já os tempos em que o Bill Cristal se metia com os actores nomeados de maneira mordaz e elegante, estabelecendo uma interacção com a plateia de que não há memória.
Um dos raríssimos momentos em que Chris Rock esteve bem foi quando "anteviu" a entrega das estatuetas num 'drive in', numa alusão aos novos moldes da cerimónia.


Gostávamos de saber porque é que a Beyoncé foi a rainha da canção. Não havia mais ninguém? Ela é gira, tem o corpo de um violoncelo, a tez esplêndida, a voz boa... OK. Mas como disse a Lolita:
"Daqui a uns anos está a cantar com o La Féria..." De facto, a Beyoncé fica muito melhor na rua a abanar o recheio dos jeans, do que na versão Broadway...



Gostávamos de saber se a realização estava a dormir. Caras vimos poucas. Cadeiras vazias vimos muitas (deviam estar no bar). A par daquela ideia tola de filmar alguns nomeados de seguida e a correr, para dar o ar radical à festa septuagenária, a câmara pareceu andar sempre a vaguear entre os inúmeros palcos, sem rumo.

Aos 77 anos o Óscar merecia melhor.

1 Comments:

At 8:57 da tarde, Blogger Roxanne said...

Ah, pois foi...uma gala gravada na "Sibéria das emoções e da criatividade"...

 

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