Fábrica Lumière

Este blog nasceu num café-bar chamado "Vertigo", em Lisboa. Pensámos logo que esse nome era um sinal... Só podia. Adoramos "fazer filmes", essa é que é a verdade! Mas inspiramo-nos sempre nos originais. Se a amizade morresse, sobraria inevitavelmente a paixão pela sétima arte que nos une.

abril 07, 2005

Barreira Invisível 6 - Espanglês



Depois de ver Espanglês fica a pergunta:

Deverá a identidade colectiva/cultural sobrepor-se à individual?
Não. Esta é desde já a minha resposta.

Apesar de sermos o que o meio físico e cultural nos fez, a identidade mínima obrigatória é o eu.
Eu, tu e ele... O nós é um segundo patamar, cujo plural não deve dissolver a singularidade de cada homem. O que cada um faz com as suas origens geográficas e com as tradições do seu povo é o que nos torna únicos.

Neste sentido, Espanglês é um belíssimo filme com um final triste. Quando digo triste não é por a rapariga (Paz Vega) não ter ficado com o rapaz (Adam Sandler). Nada disso (embora tivesse preferido que sim...). É por essa mesma rapariga ter obrigado a filha a ser como ela, em nome de uma identidade que não quer ver dissolver-se nos valores da sociedade americana. Talvez por isso eu perceba tão bem as motivações da outra rapariga na estória (Téa Leoni, casada com a personagem de Adam Sandler).

À parte esta questão, que poucos ou nenhuns créditos lhe retira, Espanglês tem personagens ricas, interpretadas à flor da pele, por actores que se atiram do ecrã para os nossos sentidos sem rede. Até os clichés como “empregada pobre mexicana conhece senhores ricos americanos” são desmontados com o tipo de humor que nos faz bem – aquele em que se ri por entre lágrimas.

Comovi-me. Muito.

Nota1:
Não há nenhuma personagem má neste filme. São todas tão exuberantemente humanas que nos fazem acreditar que nós, com todas as limitações e pecados, ainda somos a melhor espécie ao cimo da terra.

Nota2:

Não as cito aqui porque exorto a comunidade leitora desta Fábrica a ir ver Espanglês, mas existem pelo menos duas mãos cheias de falas que podem entrar para a “caderneta de pensamentos” a reter dos diálogos cinéfilos.